Mais um episódio da House of Brasília.
Sérgio Moro se demitiu hoje do cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, contribuindo para o cenário de profunda instabilidade em que o governo Bolsonaro se encontra. É a segunda figura mais popular do que o próprio presidente que desembarca do governo em pouco mais de uma semana, após a demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Moro construiu a sua trajetória política através da operação Lava à Jato e em especial ao caso do ex-presidente Lula, quando era apenas o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba. Subvertendo o princípio da imparcialidade da função de juiz, como ficou publicamente conhecido através das denúncias do Intercept Brasil, Sérgio Moro mantinha diálogo direto com o advogado de acusação, vazou informações para a imprensa e rompeu com o preceito de presunção de inocência ao prender o ex-presidente antes do fim do processo. Esse esquema, associado ao crescimento do antipetismo e de uma campanha permanente da mídia contra não só Lula, mas contra as ideias de esquerda, fez com que Moro se tornasse a maior expressão da política de uma extrema direita punitivista que se move pelo ódio.
A eleição de Bolsonaro também foi produto dessa manobra, e não à toa, Moro foi presenteado com um super ministério para si e uma promessa de carta branca. Embora ele tenha justificado a sua saída como uma movimentação necessária para manter os seus princípios, buscando diferenciar a necessidade de perfis técnicos X políticos - e se incluindo no perfil técnico - sabemos que Moro abandonou a posição de juiz muito antes de ter aberto mão da carreira magisterial ao aceitar o cargo no governo. Em meio à pandemia, uma crise econômica sem precedentes e uma crise institucional, o gatilho para sua decisão foi um conflito de espaço sobre a nomeação do diretor da Polícia Federal.
Não temos como ter nitidez sobre as verdadeiras motivações de Sérgio Moro, mas com sua popularidade pessoal em alta e um governo em crise, não lhe faltariam motivos para pular fora do barco nesse momento almejando mais poder. Sua saída foi marcada por denúncias gravíssimas, como a de Bolsonaro ter dito que queria um diretor da Polícia Federal de seu contato pessoal, para quem ele pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência...que lhe desse acesso aos inquéritos. Essa afirmação é extremamente grave ao se tratar de um presidente da República - ainda mais com tantos escândalos de envolvimento com milícias, denúncias de rachadinhas e o fatídico desaparecimento do Queiroz.
Essas insinuações carregam informações cruciais para o interesse público e devemos exigir que Moro explique de forma séria essas denúncias. É inadmissível que em um dia que se totalizam mais de 407 mortes pelo Coronavírus, que o sistema de saúde entra em colapso em AM e que a curva brasileira traz previsões piores do que a Espanha, que o governo seja consumido por conflitos internos de poder. Precisamos da unidade progressista o mais ampla possível para oferecer uma alternativa para o Brasil. O fim desse governo e desse projeto é uma questão de saúde pública. #ForaBolsonaro