Por Karla Luz, militante do RUA Piauí e Coord. de Projetos do CUCA da UNE.
Desde 2018, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de violência escolar vem se tornado mais frequentes no Brasil.
Nisso há algo muito importante para reflexão e para construção de portas de saídas, para um momento em que nossas escolas cumpram com seu papel transformador da realidade!
Se quisermos construir um mundo diferente, é preciso considerar alguns fatores a serem debatidos:
1. A exposição a violência ou a situações de violência é um determinador importante no processo de conscientização das crianças e adolescentes. Essas crianças e adolescentes quando expostas às violências tendem a reforçar um pensamento de que só com mais violência pode-se ter resolutividade de problemas!
Mais armas, nos ambientes escolares ou mais polícia nesses ambientes, reforçam ainda nesse pensamento, que a violência e a punição são as únicas formas de poder se sentir em segurança, reforçando a também a "Cultura do Medo" como tática de sobrevivência.
Essa cultura é equivocada, se provando diariamente falha. Os casos de violência nas escolas aumentaram nos últimos anos, a medida que a valorização da "Cultura Armamentista" tenha crescido, desde o Governo Bolsonaro.
O acesso às armas também são fatores importante de se pensar nesse contexto. Em 2022 um jovem com acesso à arma do pai, entrou em duas escolas e matou 4 pessoas em Aracruz no Espírito Santo, a tragédia chamou atenção pela forma como o jovem realizou o crime, usando do modo operante dos atiradores norte americanos. É importante ressaltar que conhecido pela liberação de armas, os EUA têm casos recorrentes de atiradores em escola, tendo ligação direta com o acesso facilitado a armas.
2. O discurso de ódio e extremismo é o segundo fator que temos que nos atentar. Afinal, a disputa ideológica extremista de grupos, conservadores, nazistas, supremacistas brancos e misóginos tomam, a cada dia mais, as redes.
O acesso à Internet por crianças, adolescentes e jovens sem moderação dos responsáveis, ou mesmo moderação das próprias plataformas sociais, tem causado hoje uma desenfreada ascensão da reprodução dos discursos de ódios.
Hoje os grupos e "chains" de ódio, tanto em plataformas legalizadas como, reddit, Facebook, etc. Como também na Deep Web, chega com mais velocidade nas crianças e adolescentes, que são incentivados a cometerem atos de violências, muitas vezes premeditados, no Brasil e no mundo!
É preciso pensar a Internet como local físico, afinal internet não é terra de ninguém, que tenha regulamentações, considerando a inércia das plataformas no combate aos discursos de ódio e violência.
3. Educação se constrói com políticas públicas! Não podemos aceitar que espaços educacionais sejam vistos como uma espécie de favor a população! Educação é direito!
A lógica dos últimos anos, dos investimentos em instituições de ensino privado e do desmonte do ensino público, contribui para a construção de que a escola pública é um espaço distante das preocupações dos governos. Ou se investe em qualidade no ensino brasileiro, ou corremos o risco das escolas públicas virarem espaços a margem da sociedade.
É importante ainda destacar que, os professores, foram os profissionais mais perseguidos nos últimos anos. Foram colocados como agentes do mal na construção da sociedade, um exemplo é, os projetos como o "Escola Sem Partido". Esse pensamento reforça os discursos de ódio e descarta a importância da construção de um senso crítico, que permita a diversidade de opiniões e a capacidade dos estudantes de lidarem com as divergências.
Por fim e não menos importante, é preciso estar atentos as disputas de narrativas. A Extrema Direita no Brasil, nos últimos meses, tem transformado qualquer assunto, em "apenas" (não obstante, um projeto de disputa) debates de segurança pública. Esses, fazem de maneira simplória e proposital a análise sobre os problemas enfrentado no Brasil. Enquanto de maneiras desonestas com a população, esquecem de mencionar os fatores realmente por trás do problema, como nos casos de violência nas escolas.
Se quisermos mudar o mundo é o nosso papel, retomar com incentivo as políticas públicas, ao debate crítico, e as análises gerais antes de chegarmos a mais ações de violência.
Uma das formas para fazer com que isso aconteça, é a revogação do "Novo Ensino Médio", que dificulta assuntos como esse, a ser debatido com a profundidade e qualidade que deve ser tratados.
É imprescindível nesse momento um compromisso com a educação brasileira, a partir de nós! Como agentes de transformação da realidade e não de amenizadores das situações que vivemos atualmente.