Em 1963 o então presidente João Goulart diante de um cenário de profunda crise propôs algumas reformas de base para mudar as estruturas tributárias, urbana, educacional e agrárias no país. Fazendo com que as elites econômicas, setores conservadores e as forças armadas, consolidasse ainda mais a oposição ao seu governo.
Surgiu então a oportunidade final depois de várias tentativas desde a década de 50 à derrubada do regime democrático pelos comandantes militares, partidos burgueses de direita, classe média e a elite fundamentalista operacionalizar suas ideologias golpistas que tem total repulsa do povo e da liberdade.
Entre os dias 31 de março e 1 de abril de 1964, o golpe cívico militar no Brasil é consolidado, e ao longo da madrugada o presidente João Goulart de legítimo governante é deposto, dando fim a nossa frágil democracia e iniciando a era que fez sangrar e atormentar nossa bandeira, e ainda tem resquícios nos dias de hoje.
Nosso golpe foi orquestrado e financiado diretamente pelo imperialismo dos Estados Unidos, que chega a enviar para o Brasil forças navais com objetivo de intervir e “ajudar” na nossa crise, além de grandes empresas pertencentes à elite e a massiva mídia. Lembrando que esse período de chumbo assombrava toda América Latina com um belo empurrão de nossos mesmos interventores.
Os ditadores então afirmavam que a tomada de poder era necessária e em defesa do povo, já que o país sofria de uma possível “ameaça comunista” e só duraria até 1965, período em que "arrumariam a casa" e logo depois novas eleições seriam convocadas. Discurso mentiroso que perdurou durante 21 anos e fez com que uma parcela da classe média que inicialmente era apoiadora também fosse perseguida, torturada e morta, assim como todo opositor ao regime.
Em 1968 haviam muitas mobilizações de massa, dentre elas a passeata do 100 mil em denúncia ao assassinato do jovem estudante Édson Luís. Exigiam o fim ditadura, que já tinha imposto à sociedade atos que deturpam a constituição. Surge então no dia 13 de Dezembro o Ato-Institucional 5, mergulhando o Brasil num período ainda mais doloroso, tirando o pouco que restava de liberdades individuais, censurando imprensa, cassando mandatos e direitos políticos, extinguindo habeas corpus deixando pessoas sem direito a defesa, fechando assembleias legislativas e congressos, podendo assim legislar sem interferência desses poderes, entre outros. Essa linha já era defendida pelos militares da ala “linha dura” desde 1964.
Depois de muita pressão e mobilização social, o último presidente ditador João Figueiredo em 1979 sanciona a lei da anistia, que concedeu anistia “a todos” que cometeram crimes políticos ou conexos com estes no período de 1961 a 1979, permitindo o regresso de diversos militantes que estavam exilados no exterior, mas deixando impune até hoje os crimes cometidos pelo braço repressor da ditadura, fazendo do Brasil o país do silêncio.
É imprescindível que não esqueçamos essa história que assassinou e perseguiu todos aqueles que desafiaram o sistema, em sua maioria jovens, mulheres e estudantes, uma geração que lutou e deu sua vida para o avanço da democracia e das eleições diretas para dar início ao um novo período onde seus sonhos e projetos de nova sociedade não fossem rechaçados e mortos.
Nosso processo de transição para democracia se inicia tardiamente. Somente em 1985 fazendo a troca do governo por meio das eleições indiretas, alterando um ditador do poder para um dos orquestradores arrependidos que virou oposicionista ao regime autoritário que era um conciliador de linha moderada e liberal, fazendo com que essa transição se tornasse uma institucionalização dos mecanismos autoritários, ao invés de uma nova democracia, que não se efetiva apenas com um calendário eleitoral, golpe de 2016 é um grande exemplo disso.
Finaliza o regime mas seus resquícios ainda estão vivos, a violência social continua, nossa polícia permanece militarizada matando e encarcerando grupos específicos da sociedade, a ideologia que matou Carlos Marighella e Iara Iavelberg há 50 anos atrás é a mesma que assassinou Marielle Franco em 2017, Vilmar Bordin e Leomar Bhorback em 2016.
A lógica militarizada de segurança pública, assassina todos os dias jovens nas comunidades mais vulneráveis as quais se tornou corriqueiro invasões policiais justificadas pela injúria "bandido bom é bandido morto" muito reproduzida na década de 70 como se pequenos grupos abençoados pelo Estado tivessem o poder de escolha sobre os corpos que merecem ou não viver.
Testemunhamos hoje, novamente, na figura de Bolsonaro, um presidente com princípios totalmente antidemocráticos, eleito com uma campanha baseada em mentiras e ataques à esquerda, ele insulta a imprensa, elogia torturadores e impõe novamente políticas autoritárias que governam para a manutenção da elite fundamentalista, concilia sua bancada com lunáticos e militares que nunca esconderam seus discursos anti-comunismo e elogios aos porões da ditadura, inclusive com seu vice-presidente Hamilton Mourão que publica recentemente no Twitter elogios à memória dos 56 anos do golpe pois “foi o início das reformas que desenvolveram o Brasil”.
Estamos vivendo a maior crise que nossa geração possivelmente vai enfrentar. Bolsonaro que sempre se mostrou anti-ciência, mistifica todos os cuidados que a OMS apresenta para o combate ao Covid-19, ataca mais uma vez a mídia e os governos estaduais por estarem produzindo pânico desnecessário a população. São em momentos como esse que devemos estar atentos para não deixar que o estado punitivista se aproveite da delicada situação e estabeleça novos paradigmas sobre os nossos direitos e liberdades, punindo acima de tudo grupos minoritários, um exemplo disso é o fechamento criterioso de fronteiras somente com alguns países que o governo brasileiro fez no início da pandemia, entrando em contradição com seu discurso que o coronavírus é apenas uma gripezinha.
A irresponsabilidade de seu governo é um risco a vida do povo, eles que deveriam estar trabalhando em medidas básicas de prevenção e reparação preferem menosprezar a população com discursos individualista para o problema: “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar, meu Deus do céu. É crime trabalhar?”.
Tirando assim sua responsabilidade coletiva para combater a crise e fornecer condições dignas a qualquer cidadão como moradia, saúde, saneamento básico e direito de viver, medidas que diversos líderes mundiais tiveram que fazer. Já em seu governo da morte, Bolsonaro propôs um projeto emergencial vergonhoso com renda de 200,00 reais para trabalhadores autônomos, mas graças ao trabalho que a oposição fez, foi editado e aprovado por unanimidade para até 1.200,00 reais por família, agora precisamos exigir que esse valor seja pago imediatamente, quem tem fome tem pressa!
Mesmo nesse cenário trágico de crise a elite continua intocável, e o 1% brasileiro permanece vivendo às custas dos restante 74 milhões de cidadãos sem saneamento, os 13 milhões que estão na extrema pobreza e mais de 12 milhões desempregados que serão os mais afetados e farão as estatísticas de contaminados e mortos pelo vírus.
Mais uma vez o sentimento de prepotência assola o povo, tendo que arriscar suas vidas por medidas irresponsáveis de um governo genocida que diz priorizar a economia. Mas não é atoa que Bolsonaro vem tropeçando na própria língua, fazendo com que sua impopularidade aumenta cada vez mais, devemos utilizar esse fator com responsabilidade a nosso favor para derrubar o bolsonarismo.
É por isso que devemos sempre seguir inspirados pelos jovens que tanto resistiram e deram suas vidas pelo fim do regime militarista há 56 anos atrás no momento mais sombrio da história do Brasil. Nossa geração uma grande tarefa para esse próximo período, a mesma daqueles que sonham e lutam em defesa do nosso futuro.
Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!