Diego Sousa
Em um mês tão importante como o mês da Consciência Negra é importante debater e salientar as dores e violências decorrentes do racismo estrutural para que isso não seja apagado ou relativizado. E é importante e necessário também, exaltar as resistências e insurgências da população preta, as de ontem e as de hoje. Pois mesmo que a branquitude tenha conduzido narrativas históricas com o apagamento dessas resistências, a realidade não é esta que foi imposta a custo de muito sangue preto derramado.
Revoluções passadas que possibilitaram e nos ensinam sobre como nos organizar hoje. Não poderíamos deixar de mencionar Esperança García, mulher preta escravizada, piauiense de Oeiras, que ousou requerer seus direitos, que ousou se posicionar contra a branquitude e o colonialismo.
Outro piauiense, esse de Amarante, que também merece ser destacado – e citado – é Clóvis Moura, historiador que dedicou sua pesquisa à tarefa de comprovar as resistências e revoluções das populações escravizadas. No livro Rebeliões de Senzala, Clóvis Moura vem rebater o argumento de que o colonialismo não teve nenhuma resistência. Em Sociologia do Negro Brasileiro, o autor não humaniza a Negritude, como mostra suas complexidades enquanto grupo social.
As resistências hoje são diversas e ainda necessárias, pois sofremos todos os dias com consequências do racismo estrutural, colonialismo e capitalismo. E vale destacar as resistências das ruas, das periferias, das juventudes, de quem produz arte e cultura. Em qualquer cidade movida pelo capitalismo, a vida é conduzida em prol do capital. A população trabalhadora, que em sua maioria é preta, tem desde sua educação até seu trânsito na cidade regulados para suas possibilidades de trabalho, assim excluindo sistemicamente a arte e cultura como dignas da Negritude. A existência de bailes de reggae, batalhas de Hip Hop, Casas de Ballroom, coletivos de artistas de RUA e outros, por si são resistência pura, pois enquanto movimentações artísticas e culturais de origem na cultura negra, se mostram ações antissistêmicas.
Em 28 de junho de 1969, a polícia invadiu o bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, contra a presença da população LGBT no local. A repressão não passou despercebida e lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com apoio dos moradores da região, entraram em um confronto com a polícia que se estendeu por vários dias.
Em São Paulo em 19 de agosto de 1983, várias lésbicas reuniram-se no Ferro’s Bar, e protestaram contra a discriminação que haviam sofrido ali quase um mês, quando os donos do estabelecimento proibiram a circulação do periódico Chana Com Chana e chamaram a polícia para reprimir quem reclamasse do fato. A resposta das mulheres ficou conhecida como “Stonewall brasileiro”, em referência ao protesto no bar estadunidense, que posteriormente deu origem ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.
A luta do movimento LGBT está desde o início relacionada ao direito à cidade, a possibilidade de andar livremente pelo espaço público e participar de sua construção no dia a dia sem ter de esconder sua identidade de gênero ou sua orientação sexual. É preciso relembrar que o nosso caminho começou com lésbicas, bissexuais, bixas e travestis negras, e por mais que a população negra tenha encabeçado as lutas e as resistências muito ainda nos é negado. Enquanto as LGBT’s brancas lutam por matrimônio e igualdade, a realidade para a imensa maioria das negras LGBT’s é lutar pela sobrevivência, contra a fome, desemprego, violência policial. O racismo potencializa a lgbtfobia, da mesma maneira que a lgbtfobia turbina o racismo. Trata-se de uma luta dupla.
Enquanto uma LGBT negra ainda for oprimida, nenhuma de nós será realmente livre. Como LGBT’s anticapitalistas precisamos entender que qualquer mudança social radical deve pautar prioritariamente o fim do racismo, da máquina de extermínio que diariamente faz tombar corpos LGBT’s negros. Desse CISTEMA capitalista que lucra sob nossos corpos.
Os nossos passos vêm de longe. Por Xica Manicongo, a primeira travesti do Brasil, símbolo de resistência e luta da comunidade LGBTQIA+. Marsha P. Johnson, líder do movimento pela libertação LGBT. Por Marielle Franco, mulher negra, socialista, bissexual, cria da favela da Maré, vereadora da Câmara do Rio de Janeiro, eleita com 46.502 votos, corvademente assasinada em 14 de março de 2018, continuaremos resistindo e ocupando todos os espaços com nossa arte, cultura, luta e resistência!