A cultura afro-brasileira é um conjunto de manifestações culturais no Brasil que teve e tem influência da cultura africana desde o tempodo Brasil colônia. Essa cultura tem em seu contexto negação, marginalização, silenciamento e subalternização.
A resistência de um povo oprimido não é apenas uma luta física e sim uma batalha carregada de significados culturais e sociais de uma raça que dentro de um navio em péssimas condições não deixaram sua ancestralidade vagando em alto mar.
A cultura afro-brasileira tem uma forte militância na luta pela igualdade racial e transcende fronteiras em território brasileiro. Essanão demarcação de limites culturais africanos e brasileiros tem como ênfase unir para a liberdade cultural e preservação da identidade. Paulo Freire nos recorda que “para que os oprimidos se unam entre si, é preciso que cortem o cordão umbilical, de caráter mágico e mítico, através do qual se encontram ligados ao mundo da opressão”. Devido ao contexto da época e as condições nas quais esses oprimidos viviam no Brasil colônia, o corte do cordão umbilical não foi de imediato, mas a maneira de manter esse cordão umbilical sempre fragilizado prestes a romper era toda a resistência cultural dos povos por meio de suas manifestações culturais (re) existindo.
Assim, esses povos por mais resistentes que fossem sempre estavam passando por uma invasão cultural, por exemplo, sua crença religiosa por não ser monoteísta e o Brasil colônia por ser de vertente extremamente católica se via na necessidade de catequizar esses povos com sua religião central “padrão” encaminhado os oprimidos para a “salvação”.
Gilberto Silva nos alerta que “a elaboração de um programa curricular que valorize as contribuições de várias culturas de forma explícita dinamiza e potencializa o conhecimento numa perspectiva multicultural e intercultural”. Na escola o outro, o diferente é depreciado, ridicularizado, estigmatizado, discriminado e finalmente excluído em geral, na frente de todos e com a anuência dos profissionais da educação, quando silenciam ou participam dessas situações.
A Lei 10.639/2003 é cumprida? Não se pode aceitar as leis que regem uma sociedade sendo negadas por um currículo escolar marcado pelo herói branco e o negro marginal, pois é uma norma social e política institucionalizada que deve ser efetivada e construída dentro do espaço escolar por ser um ambiente plural e responsável pela formação crítica, transformadora e emancipatória.
Jovino relembra que “os educadores são, também, profissionais da cultura, e não de um padrão único de aluno, de currículo, deconteúdos, de práticas pedagógicas, de atividades escolares. Todos, sem exceção, diferem em raça/etnia, nacionalidade, sexo, idade, crenças, classe. Todas essas diferenças estão presentes na relação professor/aluno e entre os próprios educadores”.
É notório o currículo marcado de matriz eurocêntrica deixando a população negra em plano secundário, pois ao tratar da culturanegra, o corpo docente está vendado não enxergando as reais contribuições, sendo recordadas apenas em 20 de Novembro, dia da Consciência Negra.
É notório que os futuros professores não estão sendo preparados para trabalharem com temas contemporâneos transversais e interseccionais no ensino infantil, fundamental e médio.
Boakari e Machado afirmam que “a universidade brasileira écriada dentro do espírito elitizado, patriarcal e racista, contribuindo com aconstrução de um modelo de sociedade eurocêntrica” [...]. Dessa forma foi possível observar a ausência da cultura negra no espaço escolar e de outras culturas, assim o currículo e os docentes se apropriam de uma prática formativa eurocêntrica, com exceção daquelas/es docentes sensíveis com os temas contemporâneos transversais que não negligenciam tal proposta curricular. Mesmo com a obrigatoriedade da Lei, as propostas curriculares dentro do espaço escolar e acadêmico se prendem ao currículo de matriz colonial não valorizando a cultura negra em seus vários aspectos. A escola, por sua vez, deve, por meio do Projeto Político Pedagógico (PPP), criar metas e estratégias que valorizem a cultura afro-brasileira e façam o cumprimento da Lei 10. 639/2003. As instituições de ensino superior devem formar docentes tomando como ponto de formação o respeito à diferença e às diversidades que deve estar presente nos componentes curriculares dos cursos. Assim, com docentes qualificados e currículos sensíveis teremos ambientes escolares com um olhar de respeito para com as diversidades culturais.
Referências:
ABRAMOWICZ, Anete; BARBOSA, Maria de Assunção; SILVÉRIO,Volter Roberto. Educação como prática dadiferença. Campinas, SP: Armazém do Ipê, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogiado oprimido. 17° ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
JOVINO, Ione da Silva. Literatura infanto – juvenil compersonagens negros no Brasil. In. SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazaré. Literatura afro – Brasileira. Brasília:Fundação Cultural Palmares, 2006.
MACHADO, Raimunda Nonato da Silva; BOAKARI, Francis Musa.Formação continuada com e na diversidade no século XXI. Teresina: Edufpi, 2013.
SILVA, Gilberto Ferreira. Multiculturalismo e educaçãointercultural: Vertentes históricas e repercussões atuais na educação. In:FLEURI, Reinaldo Matias. Educaçãointercultural: Mediações necessárias. Rio de Janeiro: DP&A Editora,2003.
SOUSA, Wanderson William Fidalgo de;VIEIRA, Maria Dolores dos Santos. Que cultura afro-brasileira e escola ensina?In: BOAKARI, Francis Musa; SILVA, Francilene Brito da; BATISTA, Ilanna BrendaMendes. Políticas Públicas e Diversidade:Quem precisa de Identidade? Teresina: EdUFPI, 2020. p. 343-352. Disponível em:https://www.ufpi.br/arquivos_download/arquivos/E_BOOK_10_NOV_2020_E_book_PolíticasPúblicaseDiversidade20201111102658.pdf. Acesso em 01 de nov. 2021.