O ano de 1968 é um marco na perda de direitos democráticos. A emissão do AI-5 é onde começa a história de Fernando Santa Cruz com o Rio de Janeiro e com a cidade de Niterói.
Por sua luta enquanto militante estudantil em Recife, Fernando é obrigado a abandonar sua terra para vir ao Rio de Janeiro. O decreto que suspendia todas as garantias constitucionais aos cidadãos, dando poder irrestrito à Costa e Silva de nomear interventores para agir em todas as esferas, era um ameaça à vida de um comunista recentemente preso por estar em manifestação.
Era muito arriscado continuar em Pernambuco após o AI-5. Fernando muda para o Rio com sua esposa e, pouco depois, ingressa no curso de direito da UFF. Passando pela militância do Diretório Acadêmico de seu curso e depois no Diretório Central dos Estudantes.
Sua mãe, Dona Elzita nunca desistiu de encontrar o filho. Peregrinou por quartéis, órgãos internacionais e pela sede do DOI CODI, numa luta incansável que se tornou símbolo de resistência. Ela faleceu, há pouco mais de um mês, aos 105 anos de idade sem nunca descobrir o paradeiro de Fernando. O jovem, militante da Ação Popular Marxista- Leninista, desapareceu no Carnaval de 1974, pelas mãos da ditadura militar e hoje não há um militante do movimento estudantil que não saiba seu nome, que batiza o DCE da UFF.
Em seu desaparecimento, Fernando deixava um filho de 2 anos de idade. Filho este que hoje preside a Ordem dos Advogados Brasileiros. Hoje Bolsonaro afirmou à Felipe Santa Cruz, filho de Fernando e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, que sabe como seu pai desapareceu. Felipe inclusive foi batizado em homenagem à Humberto Câmara Neto, companheiro de Fernando desaparecido após ser preso e torturado pela polícia carioca.
É inadmissível que um presidente eleito desrespeite a dor de uma família que perdeu um ente e hoje luta por memória e justiça. A ditadura militar foi um período cruel na história de nosso país. Milhares de pessoas deram suas vidas pelo reestabelecimento da democracia, pela garantia plena dos direitos humanos. Repudiamos qualquer menção à torturadores e assassinos, exigimos justiça para Fernando e tantos outros, que para nós que hoje vivemos tempos de ódio na política, são exemplos de luta.
Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta!