Em 2013 uma nova geração da juventude brasileira saiu às ruas, junho nos permitiu sonhar! Em sintonia com todo um movimento de indignação sentido por jovens de todo o mundo, o Brasil foi sacudido pelos milhões que foram as ruas não mais dispostos a aceitar passivamente as regras do jogo: elas/os acreditavam que outra sociedade é necessária. Em meio a essa nova conjuntura, onde um número maior de pessoas passa a revoltar-se contra a ordem, é que devemos, como jovens, anticapitalistas e libertárias/os, disputar os rumos desta indignação com a construção de um novo movimento de juventude, que crie uma nova cultura política, combativa e democrática, para conquistar uma nova hegemonia na sociedade.
Em 2007 estoura uma das mais graves crises recentes do capitalismo que, por sua vez, levou a um enorme aumento da precarização da vida das/os jovens de nosso planeta. Particularmente afetada por esse desemprego e somada a uma insatisfação resultante da ausência de uma democracia real, a juventude foi às ruas indignar-se contra toda a lógica do sistema. Isso ocorreu em diversas localidades do globo: no Oriente Médio e norte da África com a Primavera Árabe, nos EUA com o Occupy, na Europa com os indignados e na América Latina com diversos movimentos que questionam o nosso atual modelo de desenvolvimento e de sociedade.
No Brasil, ao contrário do que alguns pensavam, não pudemos escapar da crise. O resultado político desse cenário foi que em 2012 passamos por um ano de muitas batalhas e isso se mostra pelo fato de que, depois de muito tempo contidos pelas centrais sindicais atreladas aos governos do PT, os trabalhadores voltaram a lutas por seus direitos com o seu principal instrumento: a greve. Principalmente localizadas nos setores do funcionalismo público, esse processo teve uma das suas expressões mais ricas no setor da educação. Estudantes, técnica/o-administrativas/os e professoras/os protagonizam uma enorme greve nacional onde exigiam atitudes e respostas de um governo que, como agora passavam a perceber, talvez não fosse tão assim das/os trabalhadoras/os.
A cara do nosso atual governo, assim como dos antecessores, é a retirada de direitos. Grande parte do nosso orçamento público é gasto com o pagamento da nossa divida pública, restando uma ínfima parcela para os serviços públicos básicos, como saúde e educação, o que gera uma extrema precarização e a privatização. Todos os direitos se tornam mercadorias, a serviço do 1% dos megaempresários que controlam todas as esferas da nossa vida.
Esta política é feita com a colaboração dos movimentos, entidades e partidos histórico da classe trabalhadora brasileira. A cooptação, a burocratização, o distanciamento das lutas políticas e o machismo dentro do movimento tomam conta do cenário político atual e temos que reinventar as nossas formas de fazer política. É preciso uma nova cultura política dentro da esquerda. Aliar a combatividade, a democracia, o combate a todas as formas de opressões no movimento e a criatividade é central para a reconstrução de um projeto de sociedade sem exploração e opressão.
Tudo isso nos mostra que há um grande espaço para atuação e organização daqueles que não podem encaixar seus sonhos dentro dos estreitos limites de nossa sociedade. Somos parte de uma geração que nasce em um mundo de individualismo cego, de imposição dos modos de viver, pensar e amar, de uma relação predatória entre os seres humanos e a natureza, de exploração e retirada de direitos, de guerra as drogas e aos pobres e de extermínio da juventude negra. Não aceitamos esse mundo como natural! Não nos propomos a ser um farol da transformação social e recusamos modelos prontos e dogmáticos sobre como esta deva ser. Acreditamos que só a auto-organização das maiorias oprimidas e exploradas poderemos construir uma democracia real!
Somos anticapitalistas porque não acreditamos em uma forma de viver que só satisfaz as necessidades daqueles que buscam o lucro. Lutaremos pela eliminação de todas as formas de exploração existentes. Além disso, o capitalismo refuncionaliza todas as formas de opressões específicas, como, por exemplo, as de gênero, raça e orientação sexual, de forma a utilizá-las para aumentar ainda mais o ganho de poucos empresários. Não acreditamos em hierarquizações simplistas e errôneas que secundarizam ou reduzam a questão das opressões colocando-as em segundo plano. A defesa do anticapitalismo só é possível se adotarmos uma prática que, passando por nossas atitudes cotidianas e chegando até a defesa de nossas pautas e bandeiras, combata em cada momento e espaço todas formas de opressões existentes.
É por tudo isso que diversos setores articulados da juventude brasileira se reúnem para lutar por seus sonhos. Reconhecemos as dificuldades que enfrentaremos nas lutas que virão. Os nossos inimigos são fortes, preparados e muito bem organizados. Por isso, reconhecemos a necessidade de criar um novo movimento que possa servir para interação, acúmulo e articulação das variadas frentes de luta da juventude. Somos uma juventude plural e precisaremos ser criativos em nossa organização. Com respeito aos diferentes acúmulos e dinâmicas das diversas frentes, mas construindo uma atuação comum nas agendas de luta da juventude brasileira.
O coletivo surge, portanto, da necessidade de dar consequência prática a nossa luta. Só através da construção de espaços e experiências comuns, onde possa existir um intercâmbio entre as diferentes frentes, poderemos ter uma ferramenta capaz de, simultaneamente, analisar e transformar a realidade. Com esse coletivo pretendemos oferecer uma alternativa organizativa a todos aqueles que queiram construir conosco um novo projeto de sociedade. Projeto esse que só pode ser concretizado através da construção de uma pauta anticapitalista e libertária.
Somos aqueles que querem construir outra civilização. Não nos contentaremos com pequenas transformações, queremos contestar a base da sociedade, ir a raiz do problema, promover uma radical transformação social e das condições de vida da juventude. Nos somaremos aqueles que não silenciarão enquanto houver injustiças no mundo e que não se calarão frente aos donos do poder. Somos uma juventude intransigente quando o assunto é nosso futuro.
Acampamento Nacional das Juventudes Anticapitalistas