O patriarcado se alimenta dos corpos femininos para sua manutenção, tendo a mulher como seu método de reprodução de força de trabalho. Sendo assim, para garantia de sua existência o capitalismo impõe às mulheres padrões, como a heterossexualidade e a heteronormatividade.
No Ocidente, as primeiras leis anti-homossexuais, ambas redigidas sob influência da Inquisição, foram publicadas em 1533: o Buggery Act (Inglaterra) e o Código Penal de Portugal. A partir disso, leis anti-homossexuais se espalharam por diversos países do Ocidente que, por sua vez, as impuseram às suas colônias. Durante anos, as mulheres foram consideradas doentes por amarem outras mulheres, ou se entenderem com o gênero feminino. O que resultou desde sempre internações em manicômios, estupros corretivos e assassinatos. Lidando não só com o machismo diário como também com a LBTfobia.
No Brasil, nossa resistência teve o início em meio a ditadura militar. Onde um grupo de lésbicas fundou o ChanacomChana, que era comercializado no Ferro’s Bar, frequentado por lésbicas. A venda do jornal não era aprovada pelos donos do local, que, em 1983, expulsaram as mulheres de lá. No dia 19 de agosto do mesmo ano, lésbicas, feministas e ativistas LGBTs se reuniram no Ferro’s, onde fizeram um ato político que resultou no fim da proibição da venda do jornal. E este episódio ficou conhecido como o “Stonewall brasileiro”.
Muita coisa mudou desde então, como o fim da patologização dos nossos corpos, mas ainda somos os principais corpos feridos, ainda é o nosso sangue que escorre nos asfaltos, temos os empregos mais precarizados, mas seguimos em luta. Luta pelo direito de amarmos, pelo direito de existir. Nos últimos anos, mesmo com o aumento da onda do conservadorismo, obtivemos vitórias consideráveis, como o reconhecimento das uniões homoafetivas, mas também com a nossa inclusão nos espaços políticos. Marielle é uma de nós.
Toda luta se faz revolucionária quando salva vidas, a luta LBT é revolucionária por salvar as nossas.
Arte: Thiana Fragoso/RUA UERJ