A unidade é a nossa única chance
Ultrapassamos os 188.974 casos de COVID-19 no Brasil, sendo destes 13.149 vidas interrompidas. Na esfera política, acumulam-se 31 pedidos de impeachment presidencial na Câmara desde a entrada deste governo.
No mundo todo, o agravamento da crise sanitária já infectou mais de quatro milhões de pessoas - se sobrepondo a outras crises de ordem econômica, ambiental, social e política. E Bolsonaro permanece como o pior líder mundial a insistir na negação do vírus. A temeridade pela “morte de CPNJs” e a urgência da saída de indústrias “da UTI” negam o luto repentino de milhares de famílias que perderam seus entes para a COVID-19 – e às futuras que ainda perderão, caso a política do estado continue a salvaguardar o lucro de poucos em detrimento da vida de muitos.
Enquanto alguns estados já se aproximam de uma situação de caos social, o Presidente da República busca driblar decretos estaduais e municipais para impedir o isolamento social - vide a sua recente ida ao Supremo Tribunal Federal acompanhado de ministros e empresários para fazer pressão nesse sentido. Mas o que a risada da Regina Duarte e o passeio de jetski tentam esconder é que o governo está à beira de uma encruzilhada: ou ele estabelece uma nova composição capaz de sustentá-lo, ou a tendência de enfraquecimento prevalecerá até o governo cair.
Com a saída de Moro*, o neo-fascismo brasileiro perdeu um de seus principais aliados e cúmplices - o lavajatismo -, que também representa uma parcela significativa da “vanguarda” anti-corrupção que o sustentava. Com sua base enfraquecida, Bolsonaro abre cada vez mais espaço aos militares em seu governo, tanto em posições técnicas quanto no seu centro político. E as indicações para diretorias no governo por membros do Centrão vêm sendo moeda de troca para apoio ao presidente dentro do Congresso, aproximando da velha política o governo que, durante toda sua campanha, tentou se opor no discurso.
O papel da esquerda anticapitalista no novo cenário
Temos defendido desde o golpe de 2016 que é urgente a intervenção da esquerda a partir de iniciativas de Frente Única, entendendo que é nossa tarefa a reconstrução de uma maioria social e política dos explorados e oprimidos na disputa dos rumos do país. Diante da tendência de fragmentação, devemos atuar pela sua unidade contra o bolsonarismo neo-fascista. Essa defesa é hoje, a tarefa número 1 para reverter a relação de forças defensiva em que nos encontramos.
Por outro lado, sendo a luta contra o governo Bolsonaro também uma tarefa democrática - e impedir o caminho do autoritarismo ao caos social - ela deve ser pauta de toda a sociedade, envolvendo todos aqueles que estiverem dispostos. Para esse tipo de unidade, amplamente tática, a Frente Única segue como condicionante, uma vez que garante a independência de classe e potencializa nossa capacidade de exercer pressão. Já a unidade ampla é pontual, porque sabemos que para alguns setores, interessa o fim da presidência de Bolsonaro, mas não o fim de seu projeto.
Nesse bolo, a “alternativa Mourão” é apresentada nos editoriais de uma parte da mídia burguesa. A crença na “constitucionalidade das Forças Armadas” sempre precedeu cada golpe vitorioso em nossa história. Para citar um exemplo, o golpe de 1964 foi sustentado com o argumento de provisoriedade, mas as eleições que estavam previstas para o ano seguinte demoraram 25 anos e custaram muitas vidas para serem retomadas. Precisamos interromper Bolsonaro, mas também disputar a maioria social para impedir saídas autoritárias. Os herdeiros e herdeiras daqueles que tombaram pela luta democrática, devem alertar a sociedade que Hamilton Mourão não é sinônimo de ruptura, mas de continuidade do projeto neo-fascista de Bolsonaro, e portanto, deve ser com ele derrubado.
Se a tarefa da construção de uma maioria social já enfrentava como obstáculo a fragmentação, com pandemia estamos tendo que aprender a fazer essa disputa - temporariamente - esvaziando as ruas. A frase “cada rua vazia é uma multidão contra o vírus”, representa uma conquista do campo progressista e em defesa da ciência e que tem sido fundamental para deslocar a opinião de mais de 40% dos eleitores de Bolsonaro. Para além disso, consideramos uma vitória importante que entidades, movimentos e coletivos ligados a todos os partidos progressistas brasileiros, tenham avançado na definição unitária pelo #ForaBolsonaro - que tem se materializado em um calendário de lutas com protagonismo da juventude. Como se expressou no último dia 08 e nesta semana com campanha do #AdiaENEM, que concentrará atividades no 15 de maio.
Todos ou quase todos os setores da esquerda brasileira tem se engajado em campanhas de solidariedade, em defesa da vida da classe trabalhadora e dos pobres do país. E a oposição também teve vitórias no plano institucional: a aprovação da #RendaBásicaEmergencial, medida não cumprida de fato pelo governo e que precisa ser levada adiante com rendas emergenciais complementares em cada município e estado. Repasses para projetos de pesquisa, como a recém vitória da articulação de Dani Monteiro na ALERJ* de R$5 milhões para a produção de respiradores desenvolvidos pela UFRJ. Além da pressão pela Taxação das Grandes Fortunas e o Leito para Todos.
Diante da encruzilhada do governo e as fortalecimento das iniciativas unitárias da esquerda, acreditamos que é hora de avançar para mais uma trincheira e unificar as ferramentas da classe trabalhadora brasileira em um pedido unitário de impeachment contra o presidente, colocando a esquerda à frente da disputa contra o bolsonarismo. Apenas se houver um pedido unitário, amplo entre as entidades de classe, movimentos sociais e a esquerda anticapitalista, é que esse pedido poderá expressar um passo à frente na resistência ao neo-fascismo. Caso contrário, nossa fragmentação ou “disputa pelo protagonismo” expressariam de um lado radicalidade, mas de outro nossa fraqueza.
Fazemos parte da construção desse novo pedido de impeachment proposto até o momento por mais de 250 entidades, partidos políticos, figuras públicas e movimentos sociais - não por acreditar que este pedido está mais correto do que os demais, mas como instrumento da defesa de uma unificação o mais breve possível. E em paralelo à essa articulação, fazemos a pressão para que toda a chapa Bolsonaro-Mourão seja cassada no TSE. É hora, mais do que nunca, de ocupar todos os fronts de luta contra esse projeto fascista, racista, misógino e genocida.
#ForaBolsonaroEMourão
* Mapeamento de dados do Covid no Brasil e no mundo: https://www.bing.com/covid/local/brazil
*Artigo do ESTADÃO: o medo da morte aproxima os polos: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,artigo-o-medo-da-morte-aproxima-os-polos,70003267861
* Saiba mais sobre as relações entre Moro e Bolsonaro no texto publicado pelo RUA no dia 24 de abril: www.movimentorua.org/post/moro-rodou.
*AGORA É LEI: ALERJ VAI FINANCIAR RESPIRADORES PROJETADOS NA UFRJ http://www.alerj.rj.gov.br/Visualizar/Noticia/48673