É certo que a luta contra a pandemia do coronavírus estabeleceu, para todas nós, uma nova dinâmica de sociabilidade. O isolamento e a missão de superar uma crescente nas mortes vitimadas pelo vírus é uma ação de responsabilidade compartilhada por todos e, em especial, pela Universidade.
Entendemos que este é o momento de unirmos forças para derrotar a pandemia e a Universidade, aliada às contribuições essenciais do Sistema Único de Saúde para enfrentamento desta crise, deve contribuir com este desafio: seja mantendo a suspensão das atividades presenciais que promovem aglomeração de pessoas, seja no fortalecimento da atuação do Hospital Veterinário e das importantes ações de estudantes e professores em projetos de pesquisa e extensão que contribuem no embate contra o Covid 19. Iniciativas como estas precisam ser valorizadas porque reafirmam nosso local: a Universidade Pública é parte da solução das problemáticas de nossos tempos.
Temos, portanto, um novo cenário que envolve a UECE. Após amplo debate, sistematizamos algumas impressões que queremos compartilhar para contribuir com as análises do novo período.
Cada realidade particular, merece atenção e trato especial.
Afinal, não dá para tratar como equivalente o conjunto de situações que são únicas.
Primeiro, é importante localizar que a Universidade Estadual do Ceará vive um contexto particular que a diferencia das demais Instituições de ensino superior no estado. Enquanto elas estão iniciando o semestre, nós estamos em vias de concluir o período letivo iniciado em dezembro de 2019.
Para além da realidade multicampi, as diferenças no trato com as atividades acadêmicas se dão em cada disciplina que, por um lado, demandam aparatos estruturais e metodologias particulares em cada caso; por outro, adotam diferentes abordagens para lidar com os desafios postos diante da impossibilidade do encontro presencial.
Como são tempos atípicos, as apostas tomadas representam o local de direito da Universidade: de inovação e inventividade. Nisto, as atividades remotas não podem ser confundidas com Educação a Distância - uma vez que estamos lidando com medidas alternativas que visam sanar os impactos do isolamento e a EaD diz respeito a um projeto mercantil de educação. Tratar como iguais é banalizar a crítica ao sistema EaD e reduzir a importância das tentativas em desenvolver saídas.
No empenho criativo para adaptar-se ao novo período e concluir o semestre, notamos três ações comuns no trato das atividades de ensino: em alguns casos, temos a adoção de atividades remotas; em outros, lidamos com a conclusão das disciplinas que já alcançaram marca superior a 75% e o conteúdo já tinha sido integralizado antes do período de quarentena; e, em terceira via, no acordo em que as atividades serão retomadas quando superarmos a pandemia e os encontros presenciais outra vez forem possíveis, a exemplo das práticas laboratoriais e disciplinas de estágio.
Defendemos, como parte de uma dinâmica democrática, que o diálogo entre docentes e estudantes permita encontrar e definir a melhor saída que respeite a manutenção da quarentena para conclusão deste semestre em cada disciplina.
Não existe uma fórmula única que consiga compreender a complexidade de todos os casos e, por isso, cremos que o conjunto dos envolvidos devem decidir o caminho a ser tomado sem prejuízos à formação e ao isolamento e, para aqueles que optarem pela manutenção das ações pedagógicas em atividades remotas, deve existir a possibilidade de emprego das mais variadas metodologias a fim de não deixar ninguém de fora.
Não queremos ser penalizados pelo coronavírus
O novo modo de funcionamento da Universidade em período de suspensão das atividades presenciais, entretanto, não deve ser um marco de aprofundamento das desigualdades.
Se para algumas turmas e cursos é possível a realização de atividades remotas mediadas por internet, para outras não é. Temos, na somatória dos desafios que envolvem quarentena e a universalização do acesso a internet no Ceará, um contexto em que muitos estudantes residentes em áreas rurais e em periferias urbanas possuem poucas condições para realizar conexão em streaming ou mesmo dispor de computadores e outros aparelhos tecnológicos adequados para participação em ações remotas.
Esses desafios são encarados por todos os setores da educação pública que mantém atividades remotas. A fim de dirimir um pouco os problemas pontuados neste texto: propomos que seja tomado como medida pública, a partir das definições nas casas legislativas, a distribuição de pacotes de dados por telefonia móvel aos estudantes amparados por políticas de assistência estudantil, pelo Fundo Estadual de Combate à Pobreza e por todas aquelas que desta medida demandarem. Quanto aos casos que dizem respeito a falta de aparelhos tecnológicos, propomos a criação de iniciativa semelhante a Lei no. 15.572 do Estado do Ceará que anualmente destina computadores - sem quantidade mínima definida - a estudantes que atingem nota-base no SPAECE e ENEM; mas, neste caso, com atenção a quesitos socioassistenciais a fim de promover inclusão tecnológica de estudantes de baixa renda das instituições estaduais de ensino básico e superior.
De nossa experiência em aulas remotas e do conjunto de denúncias estudantis acolhidas, salientamos duas problemáticas percebidas em alguns casos: por um lado, a ação abusiva do registro de faltas e cobranças nas aulas que se adaptaram a plataformas virtuais sem pactuação prévia; por outro lado, temos uma extrema sobrecarga de atividades avaliativas - que não refletem a média da dinâmica presencial e, ao somar o montante das disciplinas, estabelece uma rotina exaustiva. Isto, associada a dinâmica de isolamento, fortalece relações de adoecimento mental - que já é tão comum no fim de semestre.
Identificamos que estes problemas se dão em ambientes onde o diálogo já não é mais possível entre professoras/es e estudantes. Por isso, nos mantemos abertos a acolher denúncias pelo whatsapp (85) 9 8161 3541 e a estabelecer pontes com o Sindicato dos Professores (SINDUECE) e com a Administração Superior para reportar cada caso e encontrar soluções para que nenhum de nós sejamos penalizadas.
Para os próximos encontros
Quando superarmos o COVID 19 e os encontros presenciais forem possíveis, queremos retomar as disciplinas que demandam atividades práticas, como os estágios em docência, do ponto em que paramos. Por isso, não podemos perder de vista que a adaptação do calendário universitário deve ser flexível para comportar a realidade das disciplinas já concluídas e levar em conta a necessidade das disciplinas práticas e daquelas que não foram possíveis de conclusão durante o período de quarentena.
Defendemos, ainda, que o próximo semestre seja iniciado quando superarmos o coronavírus e, mais uma vez, os encontros presenciais forem possíveis segundo as determinações da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará considerando as determinações da Organização Mundial da Saúde.
É fundamental que as decisões na construção do calendário acadêmico permitam a participação de estudantes e da comunidade universitária em mecanismos como Fóruns e Grupos de Trabalho que aprofundem esta discussão.
Assinam esta carta aberta
Centro Acadêmico 31 de Agosto de Nutrição - Fortaleza
Centro Acadêmico Ana Néri de Enfermagem - Fortaleza
Centro Acadêmico de Computação - Fortaleza
Centro Acadêmico Marielle Franco de Ciências Sociais - Itapipoca
Centro Acadêmico Raimundo Landim de Pedagogia - Iguatu
Centro Acadêmico de Ciências Biológicas - Iguatu
Movimento RUA