Nos próximos dias 27, 28 e 29 de maio ocorrerá a eleição para o Diretório Central dos Estudantes Livre da USP. Um importante momento em que o conjunto des estudantes de nossa universidade podem debater sobre os rumos do movimento estudantil, suas tarefas e forma de organizar as lutas dentro e fora da USP, de forma que esta entidade cumpra seu papel histórico no presente.
Todo mundo que está no corre do dia a dia da universidade tá ligado que a situação não está nada fácil. Em cada curso ou em cada campi sofremos de diversos problemas: a falta de docentes e técnico-administrativos para garantir a continuidade com qualidade de nossa graduação; a dificuldade diária que é viver com as bolsas de permanência e toda a incerta e exaustiva burocracia que precisamos passar para talvez conseguir nossos auxílios; os circulares que são lotados; os problemas estruturais de nossas moradias no CRUSP e em outros campi; olhar os docentes e não nos sentirmos reconhecidos naquele mar da branquitude; banheiros que reforçam uma lógica binária de gênero e nos expulsam dos espaços; ter que trampar para conseguir o mínimo para se manter e manter os nossos enquanto estudamos; ou ainda uma situação cada vez mais precária de nossas graduações e pós-graduações enquanto aumenta a quantidade de cursos pagos.
Foi por motivos como estes que no ano passado fizemos uma greve em nossa universidade para deixar nítido: as coisas não podem ficar como estão! E deu pra perceber como a USP, como esse projeto da burguesia paulista, é a expressão do que Carolina Maria de Jesus falava desta cidade: “Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.” Para o interesse privado, a USP dispõe cursos caríssimos (como experiência HC), precarização e terceirização dos nossos serviços (como o HU, bandejões), criação do edital de mérito para contratação de docentes que privilegia a chamada “inovação” e apenas a valorização de pesquisas que produzem lucro para empresas.
Enquanto para nós, que depois de tanta luta para conseguir aprovar as cotas socioeconômicas e étnico-raciais nesta universidade em 2017, escutamos o reitor Carlotti ao tentar justificar porque não adotou o modelo de reserva de vagas nos concursos (como foi propostos pelo Movimento estudantil, de funcionáries e docentes) dizer o seguinte: “Não podemos ter uma política muito agressiva, que coloque em risco a qualidade de uma universidade com o prestígio da USP”. E Carlotti tem apoio de gente com grana lá de fora. Logo depois da aprovação da ampliação e revisão da lei de cotas, a Folha lançou um editorial que atacava duramente essa política. É este projeto racista, neoliberal e elitista que vem dando os rumos da USP e que no próximo período temos que estar bem ligeires, em unidade e combatividade não só para nos defendermos de ataques, mas para passar a construir uma universidade feita de nós!
Isso se impõe de forma central em nosso estado. O Governador Tarcísio que vender tudo que é público e dar continuidade a sua política genocida nas periferias e quebrados. Quer vender a Sabesp, o metrô e a CPTM – o que vai prejudicar toda nossa população em SP, inclusive a nossa permanência na universidade. E suas ameaças já chegaram na USP também! Neste momento que a reforma tributária pôs o fim com ICMS, teremos que travar uma batalha ao lado dos movimentos educacionais das outras universidades estaduais para garantir e ampliar o orçamento público delas e a autonomia universitária de cada uma!
Es estudantes não podem vacilar frente a estes ataques privatistas, neofascistas e racistas! A greve de parte dos servidores públicos estaduais do ano passado e dos federais neste ano mostram que é nossa frente única de luta que poderá barrar os retrocessos e avançar em vitórias dos nossos. Por isso, a independência política do DCE da USP é fundamental! Para construir nossa mobilização nas RUAs pela prisão de Bolsonaro e dos golpistas do passado e do presente, defender o governo federal dos ataques da extrema-direita (como o do 8 de janeiro), mas que também confronte as contradições do governo Lula que estão na contramão das demandas populares, como o arcabouço fiscal, a ausência de demarcação de terras indígenas e o Novo Ensino Médio.
Aldear, aquilombar e TRANSformar a USP no próximo período
Desde o ano passado es estudantes já estavam travando lutas no dia a dia, em seus cursos e campi como forma de enfrentar este projeto neoliberal e racista da USP. A greve foi um momento importante, em que foi possível a junção desses vários movimentos em unidade e com disposição para arrancar conquistas. Os espaços massificados que ocorreram só foram possíveis porque as forças da gestão do DCE se juntaram com a de outros coletivos para que o movimento se enraizasse em cada instituto/faculdade. Apesar dos tropeços que tomamos como conjunto do movimento, temos que revê-los e transformá-los, foi um importante marco para es estudantes que estão na universidade hoje e colocam a necessidade de continuarmos em luta para consolidar nossas conquistas, como o vestibular indígena e as contratações que foram antecipadas.
Mas ao meio disso, temos que ir além! São alguns eixos que consideramos essenciais: 1) Aprofundamento das cotas – Trans, PCDs, PPI, e refugiades, com reserva de vagas, em todos os níveis e vestibular indígena; 2) Permanência estudantil – novo modelo e aumento do valor do PAFPE com cobertura para geral que precisa desde o ingresso, melhoria no transporte, ônibus intercampi, a criação de um SUS USP que fortaleça todos nossos serviços de saúde, políticas que visem enfrentar violências racistas, machistas, transfóbicas e elitistas e o combate à insegurança alimentar (refeição todos os dias em todas refeições e lanchonetes de gestão direta com subsídio para estudantes, sem terceirização e precarização das trabalhadoras); em defesa das creches da USP em todos os campi 3) Vida, cultura, território e segurança nos campi – em defesa dos espaços estudantis e festas, fora PM da USP e por uma universidade integrado aos territórios da cidade; 4) Para quem serve o conhecimento? – reformas curriculares democráticas, bolsas de pesquisas reservadas para estudantes cotistas e pelo fim dos acordos da USP com universidades Israelenses; 5) Orçamento e Reforma universitária – pela volta da reposição automática, fim dos contratos precários de trabalho, transparência e participação paritária em todos os órgão deliberativos, criação de cursos noturnos em todas as unidades que ainda não têm; 6) Democracia na universidade – eleições direta para reitor e paridade em todos conselhos; 7) Saúde mental na universidade – por uma rede psicossocial do SUS USP, abono de faltas por questões de saúde mental sem exigência de laudos, manutenção de auxílios em caso de trancamentos por saúde e desburocratização de processos de denúncia de opressões e assédio moral.
Para isso, o DCE da USP precisa estar no nosso cotidiano e em constante contato com todos centros acadêmicos (CAs) e todos os campi! Produzir circulares constantes para todos os CAs, organizar reuniões abertas a partir frentes de atuação com temas para envolver o máximo possível de estudantes e entidades, melhor contato com os RDs locais e gerais, reuniões abertas e organizar festas/festivais que marquem nossa presença na USP, como foi a ocupação preta pelas cotas, são alguns caminhos que entendemos como importantes.
Mas além disso, temos que construir uma outra cultura política do movimento estudantil. Muitos destes espaços se sustentam na reprodução de práticas cis heteronormativas, misóginas, racistas e capacitistas que mais afastam o conjunto des estudantes do que aproximam. Divergências, que são legítimas e devem ser colocadas, transformam-se em ataques e como se estivessem combatendo inimigos. Isso não pode ser tolerado e aceito! É preciso também que pensemos em condições para estudantes cotistas e que trabalham estarem nos espaços do movimento estudantil, desde lanches solidários durante assembleias (para que não seja preciso escolher entre comer ou acompanhar os espaços políticos) até ações de solidariedades constantes entre nós para que ninguém fique para trás!
É neste tom que o RUA_Juventude Anticapitalista quer construir um DCE Livre da USP ao lado de todes que apostem na construção de uma entidade independente, responsável com a mobilização des estudantes, combativa e enraizada em todos cantos e que vá aldear, aquilombar e TRANSformar dentro e fora desta universidade e ao lado dos movimentos sociais, a altura dos desafios colocados diante do governo Tarcisio e o avanço do projeto neoliberal sobre a USP. Ao lado da luta de todes oprimides e explorades na construção de um futuro ecossocialista! Somos parte dessa gente que pensa que a RUA é a principal parte da cidade!