Por Tallon Almeida.
Uma das primeiras agendas do atual presidente Lula após tomar posse foi visitar o Distrito Sanitário Especial Indígena Leste de Roraima, que lida diretamente com as questões da Terra Indígena Yanomami. Relatos de lideranças que participaram desta reunião restrita a autoridades indicam que houve sinalização de compromisso e empenho para combater o garimpo, tráfico humano, assassinatos de indígenas, exploração indevida de terras, entre outras atividades incentivadas pelas pessoas que são a favor da destruição de ecossistemas para benefício do homem.
A crise humanitária na Terra Yanomami não é novidade para os locais, mas ganhou visibilidade nacional em 2023 com a eleição de Presidência da República. Em um relatório preliminar divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, foram apontados pelo menos 22 casos em que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que durou de 2018 a 2022, omitiu violências ou ignorou recomendações feitas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Durante este período, os direitos dos povos originários foram severamente atacados politicamente, utilizando de princípios jurídicos e eleitorais para invalidar a luta dos povos indígenas em Roraima. Na conjuntura local, o estado de Roraima não reelegeu Joenia Wapichana, primeira deputada federal indígena, com indícios que foi prejudicada eleitoralmente por antigos parceiros políticos que se juntaram à oposição.
Além da esfera política, a crise na maior terra indígena do Brasil foi agravada por questões de saúde pública. Segundo a Folha de São Paulo, em 2022 foram mais de 11 mil casos de malária no território indígena, além de casos de desnutrição e problemas respiratórios. Mesmo com o governo federal declarando emergência em saúde pública no território Yanomami, garimpeiros ainda atuavam na terra indígena, visto a tensionamento da extrema direita para continuar atividades exploratórias em terras indígenas. A Operação anti-garimpo da Polícia Federal foi importante para sinalizar que o Governo Federal estava cumprindo, ou tentando cumprir, as medidas de fiscalização e retirando invasores de terra indígena, mas paralelamente, a tese do Marco Temporal se arrasta pelos bueiros políticos da extrema direita, agravando mais ainda as tensões nas frentes de defesa de direitos originários. Nesse contexto de ataque aos direitos indígenas garantidos por constituição, a Universidade Federal de Roraima tem um papel vital de resistência. O Instituto Insikiram, prédio dedicado ao ensino, pesquisa, extensão e permanência indígena, continua sendo uma das referências de inclusão de povos originários na educação, com vestibulares indígenas consolidados e política de cotas estabelecidas.
A juventude indígena, como toda juventude universitária, é agente direto das linhas de frente de defesa de direitos, mas é necessário compreender suas particularidades, que podem variar de acordo com as etnias, localização, hábitos religiosos, gênero, sexualidade, entre outras. Dentre elas, é possível destacar que os severos critérios políticos que são considerados em algumas instâncias não se comparam com o ímpeto natural de defender a terra e a luta histórica do seu povo, o que pode abrir espaço para conflitos de interesses, sejam eles partidários, governamentais ou mesmo de mobilização. O papel dos dirigentes de juventude com a juventude indígena é acolher, conciliar e construir uma relação de parceria de luta, somente assim será possível trilhar o caminho para integrar as pautas dos povos indígenas nas reivindicações das demais organizações políticas.
O setor que defende e prioriza lucro acima da vida também possui estratégias para convencer representantes indígenas, o que tensiona ainda mais os debates. É necessário alcançar as representações por meio do diálogo e de forma a não polarizar explicitamente o debate, entendendo que o modelo de vida comunitário dos povos originários é baseado na luta coletiva pela terra e por direitos.
Sem dúvida, a luta dos povos originários ser entendida como anticapitalista é uma reflexão que precisa ser cada vez mais aprofundada nas organizações de esquerda. Não só pela herança histórica colonial, mas um povo atualmente que se opõe contra todo um sistema que quer desapropriar, explorar terras de preservação, além de exterminar os povos residentes. Se colocar como parceiro da luta dos povos originários também é compreender que os movimentos indígenas também possuem as próprias formas de organizar, mas que tem muito a integrar e complementar nossas frentes de atuação.