Em um ano totalmente atípico, em que tivemos que enfrentar pandemia, crise econômica, queimadas gravíssimas e polêmicas políticas que pareciam nos transportar para a idade média - sobre a existência ou não de um vírus que matou mais de um milhão de pessoas no mundo todo - as eleições municipais de 2020 vem para aferir a opinião das maiorias sobre a condução da crise e a permanência das ideias de extrema-direita que elegeram Bolsonaro em 2018.
Ainda que seja cedo para afirmar com todas as letras o tamanho da derrota, Bolsonaro foi o maior perdedor mesmo sem se candidatar. Das seis capitais em que o presidente apoiou candidatos, somente dois chegaram ao segundo turno: Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro e Capitão Wagner (PROS) em Fortaleza. O seu sobrenome também perdeu popularidade, com mais de 70 candidatos endossando o símbolo, apenas Carlos Bolsonaro, seu filho, foi reeleito com uma votação menor do que a anterior e perdendo o posto de primeiro colocado na lista carioca para Tarcísio Motta do PSOL. O setor que absorveu o enfraquecimento da extrema direita foi o centrão, que mesmo com ideias à direita são lidos como um setor moderado. A direita ampla ainda é maioria do país, mas, sem dúvidas, essas eleições demonstraram contratendências significativas para o próximo período.
A organização da juventude, das mulheres, da negritude, das LGBTs e dos povos indígenas deu uma resposta importante nas urnas - tivemos um aumento expressivo desses sujeitos sendo eleitos por partidos de esquerda de Norte a Sul do país. Mulheres trans estiveram entre as listas de mais votadas da cidade em São Paulo, Aracaju, Belo Horizonte e Niterói, desafiando um sistema que assassina esses corpos diariamente. E mesmo diante do sistemático genocídio contra o povo negro, vimos a luta antirracista avançar enquanto fundamental para aqueles que se propõem a disputar e construir cidades mais democráticas.
Na maior capital do país, vimos raiar no segundo turno, pela candidatura de Guilherme Boulos e Luiza Erundina, uma alternativa política capaz de recuperar os sonhos da cidade, a vontade de transformá-la, e enfrentar radicalmente os interesses do andar de cima. Em Belém, com Edmilson, está colocada a tarefa de derrotar a direita conservadora e vencer nas urnas com um projeto de cidade pautado nos interesses do povo. Em Porto Alegre com Manuela D’ávila e Recife com Marília Arraes, temos a possibilidade de impor derrotas à velha política. E, em Fortaleza, a tarefa é colocar na lata do lixo da história o único candidato apoiado por Bolsonaro que ainda aponta chances de vitória.
Nosso desafio imediato é derrotar a direita e a extrema direita nas urnas no próximo dia 29, para isso, a unidade da esquerda se forja como nossa mais potente alternativa em defesa das nossas vidas e direitos. E é no calor das ruas que devemos seguir unificando esforços para construir mobilizações massivas e derrotar de vez Bolsonaro e sua política de morte antes de 2022. Vamos virar voto e virar esse jogo pela negritude, pelos povos originários, pelas mulheres, pelas LGBTs, pelas periferias, pelos debaixo, por nós!